Universidade Federal do Rio de Janeiro
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Faculdade de Educação
Curso de Pedagogia
Disciplina Didática da Língua Portuguesa
– EDD361
Professor Doutor Marcelo Macedo Corrêa e
Castro
Bases conceituais: Ortografia
Períodos
históricos: Fonético, pseudoetimológico e simplificado
MORAIS, Artur Gomes. A norma ortográfica do português: o que é?
para que serve? como está organizada? IN: MELO, Kátia Leal Reis de; MORAIS,
Artur Gomes de e SILVA, Alexsandro da. Ortografia
na sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. Disponível
em <http://www.ufpe.br/ceel/e-books/Ortografia_Livro.pdf>
Acesso em 2/12/2013.
Com base
em dados como esses e da nossa experiência em diversas escolas públicas e
privadas, entendemos que pouco mudou na forma como a ortografia vem sendo
tratada na escola. Se fora da instituição escolar ela é cobrada – e seu
não-cumprimento é fonte de discriminação e exclusão –, cremos que também nas
salas de aula a ortografia ainda é vista como tema de cobrança, verificação,
avaliação e... punição. A partir da década de 1980, observamos também, aqui e
ali, um fenômeno preocupante: em nome do que julgamos uma má interpretação do
construtivismo, vários educadores passaram a considerar que não deveriam
ensinar ortografia, que os alunos a aprenderiam “naturalmente”, etc. Mas, no
final de contas, continuaram cobrando dos aprendizes o que deixaram de ensinar
(p.12).
Diferentemente
de outras línguas, como o francês e o espanhol, que já tinham normas
ortográficas no século XVIII, no caso do português demoramos muito em fixar uma
convenção ortográfica a ser adotada por todos os usuários do idioma. Na
realidade, até hoje existem algumas pequenas diferenças no modo como se notam
certas palavras no Brasil e nos demais países em que o português é língua
oficial (escrevemos ator e em Portugal escreve-se actor, por exemplo)
(p. 13).
Por um
lado, desde a Roma e a Grécia antigas, já existia tendência de buscar respeitar
o princípio fonográfico, segundo o qual a ortografia deveria estar o
mais próxima possível da pronúncia das palavras (p.14_.
Por
outro lado, encontramos há muitos séculos a defesa de um princípio
etimológico, segundo o qual as palavras provenientes de outra língua
deveriam preservar as grafias que tinham nas línguas de origem (Idem).
Finalmente,
nessa disputa entre perspectivas diferentes, a história de evolução das normas
ortográficas das línguas aqui mencionadas revela que não só tendeu-se a fazer
um “casamento” dos dois princípios (fonográfico e etimológico) já citados, como
a incorporar formas escritas que surgiram por mera tradição de uso (Ibidem).
Por ser
uma convenção que contém não só regras como irregularidades, muitas pessoas
imaginam que a ortografia é um acidente histórico desnecessário, que apenas
serve para dificultar a tarefa de quem escreve. Sonhando com o cumprimento à
risca de certo ideal atribuído ao alfabeto, segundo o qual cada som deveria ser
notado por uma única letra, imaginam que seria possível abrir mão da norma
ortográfica (P.15).
Como
mencionamos há pouco, as palavras de uma língua não têm – não tiveram, nem
nunca terão – pronúncia única (Idem).
Do ponto
de vista teórico, algo numa língua só constitui um fonema se, em oposição a
outro fonema, produz mudanças de significado [...] É necessário, portanto,
reconhecer que a notação alfabética traduz para o papel coisas que, por essência,
não têm sempre “um jeito único de ser”. Ao fixar uma única forma gráfica (TIO,
por exemplo), a ortografia permite que, ao ler silenciosamente, possamos, de
forma rápida, reconhecer igualmente a mesma palavra, com a vantagem de, ao
lê-la em voz alta, termos a liberdade de continuar usando nossas distintas
pronúncias (p.15-16).
Vimos
que, do ponto de vista histórico (ou “diacrônico”), cada língua com notação
alfabética só depois de algum tempo passou a ter uma norma ortográfica, a
partir do qual se estabelecia um acordo social sobre as formas únicas
autorizadas para escrever as palavras. Do ponto de vista do aprendizado
individual, ocorre algo semelhante: primeiro, os aprendizes dominam as
restrições ou propriedades do sistema de escrita alfabética e, só em seguida e
aos poucos, vão internalizando a norma ortográfica.
Para
alfabetizar-se, um indivíduo – criança, jovem ou adulto – precisa,
inicialmente, compreender uma série de propriedades do sistema alfabético, para
poder vir a usar as letras desse sistema com seus valores sonoros
convencionais. Necessita, assim, compreender que o repertório de letras usadas
para escrever sua língua é fixo, que não pode inventar letras e que só poderá
usar as letras que, de fato, são utilizadas por quem já sabe ler e escrever.
Necessita, ainda, compreender que o que a escrita alfabética nota ou representa
são os segmentos sonoros das palavras (e não seus significados ou as
características físicas dos objetos que elas nomeiam) e que, para registrar a
pauta sonora das palavras, colocamos no papel mais letras que as sílabas que
pronunciamos. Precisará, também, compreender quais são as combinações ou
sequências de letras permitidas e as posições em que elas podem aparecer...
além dos valores sonoros que podem assumir (P.16-17).
Entendemos
que as propriedades do objeto “norma ortográfica” operam respeitando aquelas já
definidas pelo objeto “sistema de escrita alfabética”. Assim, a partir das
combinações de letras que este último permite e dos valores sonoros que as
letras nele assumem, a norma ortográfica cria outras propriedades ou
restrições. Às vezes, como veremos, elas são pautadas por regras. Noutros
casos, a norma estabelece formas únicas autorizadas, que o usuário terá que
memorizar, sem ter como se guiar por uma regra. Para concluir essa explicação,
queremos esclarecer que concebemos o objeto “norma ortográfica” como o conjunto
de convenções que fixa as formas sob as quais as palavras devem ser grafadas.
Não usamos a expressão “normas ortográficas” como sinônimo de regras de ortografia,
já que a norma em questão inclui tanto casos regulares como irregularidades.
Tampouco falamos de “sistema ortográfico”, já que entendemos que a ortografia
não constitui um sistema notacional, como o de escrita alfabética, mas, sim,
uma “norma” que, respeitando as propriedades daquele, define quais os grafemas
(letras ou dígrafos) devem ser usados (p.17).
1 -
Quando analisamos as correspondências letra-som do português, é preciso
tratarmos separadamente o que são “regras de leitura” e “regras de ortografia”,
sobretudo se consideramos aprendizes principiantes. No português, como na
maioria das línguas com escrita alfabética, existem muito mais regras sobre os
valores sonoros que as letras podem assumir na leitura das palavras que regras
que ajudem o usuário a escrever as mesmas palavras corretamente (p.20).
2 - Para
“mapear” o que é regular e o que é irregular na ortografia de uma língua, é
necessário ter como referência a pronúncia de determinado grupo sociocultural.
Historicamente, por razões de ordem política e ideológica, foram as formas de
pronúncia dos grupos dominantes, “mais letrados”, que serviram de base para
definir o que é regular nas relações entre sons e grafias.
ch
ou x? chalé / xalé - mochila / moxila - relachar / relaxar – tachar /
taxar
g
ou j? gesto / jesto - geito / jeito – magestade / majestade –
tigela / tijela
c
ou sc? adolecente / adolescente – penicilina / peniscilina – recensão /
rescensão – recindir /rescindir
s ou x? esplêndido / explêndido –
espontâneo / expontâneo – esímio / exímio – êsito / êxito
Principais
dificuldades da ortografia em Língua Portuguesa:
1.
Um
mesmo fonema representado por grafemas diferentes.
Fonema
/s/: sei, assassino, crescer, cresço, cedo, cansaço, exceto, exsudar, auxílio,
paz.
2.
O
emprego das letras e e i representando o fonema /i/ e o emprego das letras o e
u representando o fonema /u/ : cidade, privilégio, botão, jabuticaba.
3.
A
grafia de certas palavras e locuções: enfim, a fim, embaixo, em cima, devagar,
de repente.
Como evitar erros de
ortografia:
1.
Conheça
os aspectos de nossa grafia que oferecem dificuldades. Assim saberá quais são
os pontos em que deverá ter cuidados especiais.
2.
As
regras de acentuação e as poucas regras aqui citadas são as que você deve
conhecer. Afora isso, saiba que a grafia correta das palavras é internalizada/memorizada
mediante a leitura intensiva e inteligente.
3.
Pratique
o exercício de dúvida. Duvide. "O ignorante não duvida porque desconhece
que ignora" (Sócrates). Pergunte-se: será que é com 'ss' ou "ç"
? com "x" ou "ch"? com "h" inicial? com
"j" ou com "g"? com hífen? etc. A dúvida é o ponto inicial
da reflexão, do conhecimento.
4.
Use
uma outra palavra ou torneio de linguagem para evitar a palavra cuja grafia
oferece dúvida.
[1] Os
desafios, bem como a lista de dificuldades e os conselhos para evitar erros de
ortografia estão em SCARTON, Gilberto. Guia de produção textual: assim é que
se escreve... Porto Alegre: PUCRS, FALE/GWEB/PROGRAD,
[2002]. Disponível em: < http://www.pucrs.br/gpt >. Acesso em: 2/12/2013.
[2002]. Disponível em: < http://www.pucrs.br/gpt >. Acesso em: 2/12/2013.