Universidade Federal do Rio de
Janeiro
Centro de Filosofia e Ciências
Humanas
Faculdade de Educação
Curso de Pedagogia
Disciplina Didática da Língua
Portuguesa – EDD361
Professor Doutor Marcelo Macedo
Corrêa e Castro
Aula: Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e os Conteúdos de Língua Portuguesa(II)[1]
OBJETIVOS GERAIS DE LÍNGUA PORTUGUESA PARA O
ENSINO FUNDAMENTAL [2]
Ao longo dos oito anos do ensino fundamental,
espera-se que os alunos adquiram progressivamente uma competência em relação à
linguagem que lhes possibilite resolver
problemas da vida cotidiana, ter acesso aos bens culturais e alcançar a
participação plena no mundo letrado. Para que essa expectativa se
concretize, o ensino de Língua Portuguesa deverá organizar-se de modo que os
alunos sejam capazes de:
• expandir o uso da linguagem em instâncias privadas e utilizá-la com
eficácia em instâncias públicas, sabendo assumir a palavra e produzir textos —
tanto orais como escritos — coerentes, coesos, adequados a seus destinatários,
aos objetivos a que se propõem e aos assuntos tratados;
• utilizar diferentes
registros, inclusive os mais formais da variedade linguística valorizada
socialmente, sabendo adequá-los às circunstâncias da situação comunicativa de
que participam;
• conhecer e respeitar
as diferentes variedades linguísticas do português falado;
• compreender os textos
orais e escritos com os quais se defrontam em diferentes situações de
participação social, interpretando-os corretamente e inferindo as intenções de
quem os produz;
• valorizar a leitura
como fonte de informação, via de acesso aos mundos criados pela literatura e
possibilidade de fruição estética, sendo capazes de recorrer aos materiais
escritos em função de diferentes objetivos;
• utilizar a linguagem
como instrumento de aprendizagem, sabendo como proceder para ter acesso,
compreender e fazer uso de informações contidas nos textos: identificar
aspectos relevantes; organizar notas; elaborar roteiros; compor textos
coerentes a partir de trechos oriundos de diferentes fontes; fazer resumos,
índices, esquemas, etc.;
• valer-se da linguagem
para melhorar a qualidade de suas relações pessoais, sendo capazes de expressar
seus sentimentos, experiências, ideias e opiniões, bem como de acolher,
interpretar e considerar os dos outros, contrapondo-os quando necessário;
• usar os
conhecimentos adquiridos por meio da prática de reflexão sobre a língua para
expandirem as possibilidades de uso da linguagem e a capacidade de análise
crítica;
• conhecer e
analisar criticamente os usos da língua como veículo de valores e
preconceitos de classe, credo, gênero ou etnia.
Observação: Todos os grifos são meus.
OS CONTEÚDOS DE LÍNGUA PORTUGUESA NO ENSINO
FUNDAMENTAL
Caracterização geral e eixos organizadores[3]
O estabelecimento de eixos
organizadores dos conteúdos de Língua Portuguesa no ensino fundamental parte do
pressuposto que a língua se realiza no uso, nas práticas sociais; que os
indivíduos se apropriam dos conteúdos, transformando-os em conhecimento
próprio, por meio da ação sobre eles; que é importante que o indivíduo possa expandir
sua capacidade de uso da língua e adquirir outras que não possui em situações
linguisticamente significativas, situações de uso de fato.
A linguagem verbal, atividade
discursiva que é, tem como resultado textos orais ou escritos. Textos que são
produzidos para serem compreendidos. Os processos de produção e compreensão,
por sua vez, se desdobram respectivamente em atividades de fala e escrita,
leitura e escuta. Quando se afirma, portanto, que a finalidade do ensino de
Língua Portuguesa é a expansão das possibilidades do uso da linguagem,
assume-se que as capacidades a serem desenvolvidas estão relacionadas às quatro
habilidades linguísticas básicas: falar,
escutar, ler e escrever (grifos meus).
Disso decorre que os conteúdos de
Língua Portuguesa no ensino fundamental devam ser selecionados em função do
desenvolvimento dessas habilidades e organizados em torno de dois eixos
básicos: o uso da língua oral e escrita e a análise e reflexão sobre a língua,
conforme demonstra o quadro dos blocos de conteúdo
Língua oral:
usos e formas
|
Língua escrita:
usos e formas
|
Análise
e reflexão sobre a língua
|
O bloco de conteúdos “Língua escrita: usos e
formas” subdivide-se em “Prática de leitura”e “Prática de produção de texto”,
que, por sua vez, se desdobra em “Aspectos discursivos” e “Aspectos
notacionais”.
A maioria dos guias curriculares em vigor já
não organiza os conteúdos de Língua Portuguesa em alfabetização, ortografia,
pontuação, leitura em voz alta, interpretação de texto, redação e gramática,
mas, na prática da sala de aula, essa estruturação é a que ainda prevalece.
Esses conteúdos também são propostos neste documento, mas estão organizados em
função do eixo USO è REFLEXÃO è USO. Aparecem, portanto, como “Prática de
leitura”, “Prática de produção de texto” e “Análise e reflexão sobre a língua”.
CONTEÚDOS
Os
conteúdos relacionados neste item — tanto em relação ao primeiro quanto ao
segundo ciclo — referem-se, por um lado, aos considerados gerais do ciclo, os
quais precisarão ser tratados em qualquer um dos blocos de conteúdos devido a
sua estreita relação com todos eles. Estão relacionados em separado com a
finalidade de se evitar repetições, dado que são recorrentes. Constituem-se em
conteúdos de “Valores, normas e atitudes” e “Gêneros discursivos”, e sua aprendizagem
não é possível a não ser em relação à aprendizagem dos demais.
Por
outro lado, serão relacionados os conteúdos específicos de cada um dos “Blocos
de conteúdos” considerados imprescindíveis para a conquista dos objetivos
propostos para o primeiro ciclo. Representam o que precisa ser ensinado e não o
que deve ser exigido dos alunos ao término do ciclo.
Objetivos
de Língua Portuguesa para o primeiro ciclo
As práticas
educativas devem ser organizadas de modo a garantir, progressivamente, que os
alunos sejam capazes de:
•
compreender o sentido nas mensagens orais e escritas de que é destinatário
direto ou indireto: saber atribuir significado, começando a identificar
elementos possivelmente relevantes segundo os propósitos e intenções do autor;
• ler textos
dos gêneros previstos para o ciclo, combinando estratégias de decifração com
estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação;
• utilizar a
linguagem oral com eficácia, sabendo adequá-la a intenções e situações
comunicativas que requeiram conversar num grupo, expressar sentimentos e
opiniões, defender pontos de vista, relatar acontecimentos, expor sobre temas
estudados;
• participar
de diferentes situações de comunicação oral, acolhendo e considerando as
opiniões alheias e respeitando os diferentes modos de falar;
• produzir
textos escritos coesos e coerentes, considerando o leitor e o objeto da
mensagem, começando a identificar o gênero e o suporte que melhor atendem à
intenção comunicativa;
• escrever
textos dos gêneros previstos para o ciclo, utilizando a escrita alfabética e
preocupando-se com a forma ortográfica;
• considerar
a necessidade das várias versões que a produção do texto escrito requer,
empenhando-se em produzi-las com ajuda do professor
Conteúdos
gerais do ciclo
A
seguir estão arrolados primeiramente valores, normas e atitudes que se espera
que os alunos adquiram ou desenvolvam. Implicam aprendizagens que dificilmente
ocorrerão por instrução direta, mas que, por sua importância, precisam estar
claramente configurados como conteúdos de ensino.
Posteriormente,
sob o título “Gêneros discursivos”, em coerência com o princípio didático que
prevê a organização das situações de aprendizagem a partir da diversidade
textual, estão especificados gêneros adequados para o trabalho com a linguagem
oral e com a linguagem escrita.
VALORES,
NORMAS E ATITUDES
• Interesse por ouvir e manifestar
sentimentos, experiências, idéias e opiniões.
• Preocupação com a comunicação nos
intercâmbios: fazer-se entender e procurar entender os outros.
• Respeito diante de colocações de outras
pessoas, tanto no que se refere às idéias quanto ao modo de falar.
• Valorização da cooperação como forma de
dar qualidade aos intercâmbios comunicativos.
• Reconhecimento da necessidade da língua
escrita (a partir de organização coletiva e com ajuda) para planejar e realizar
tarefas concretas. Valorização da leitura como fonte de fruição estética e
entretenimento.
• Interesse por ler ou ouvir a leitura
especialmente de textos literários e informativos e por compartilhar opiniões,
idéias e preferências (ainda que com ajuda).
• Interesse em tomar emprestado livros do
acervo da classe e da biblioteca escolar.
• Cuidado com os livros e demais
materiais escritos.
• Atitude crítica diante de textos
persuasivos dos quais é destinatário direto ou indireto (ainda que em
atividades coletivas ou com a ajuda do professor).
• Preocupação com a qualidade das
produções escritas próprias, tanto no que se refere aos aspectos textuais como
à apresentação gráfica.
• Respeito aos diferentes modos de falar.
GÊNEROS
DISCURSIVOS
Gêneros
adequados para o trabalho com a linguagem oral:
• contos (de fadas, de assombração,
etc.), mitos e lendas populares;
• poemas, canções, quadrinhas, parlendas,
adivinhas, trava-línguas, piadas;
• saudações, instruções, relatos;
• entrevistas, notícias, anúncios (via
rádio e televisão);
• seminários, palestras.
Gêneros
adequados para o trabalho com a linguagem escrita:
• receitas, instruções de uso, listas;
• textos impressos em embalagens, rótulos,
calendários;
• cartas, bilhetes, postais, cartões (de
aniversário, de Natal, etc.), convites, diários (pessoais, da classe, de
viagem, etc.);
• quadrinhos, textos de jornais, revistas
e suplementos infantis: títulos, slides, notícias, classificados, etc.;
• anúncios, slogans, cartazes,
folhetos;
• parlendas, canções, poemas, quadrinhas,
adivinhas, trava-línguas, piadas;
• contos (de fadas, de assombração,
etc.), mitos e lendas populares, folhetos de cordel, fábulas;
• textos teatrais;
Blocos de
conteúdos
Encontram-se
relacionados neste item os conteúdos referentes a cada um dos blocos de
conteúdos. São aqueles considerados imprescindíveis para que a conquista dos
objetivos propostos seja possível ao aluno.
LÍNGUA
ORAL: USOS E FORMAS
• Participação em situações de
intercâmbio oral que requeiram: ouvir com atenção, intervir sem sair do assunto
tratado, formular e responder perguntas, explicar e ouvir explicações,
manifestar e acolher opiniões, adequar as colocações às intervenções
precedentes, propor temas.
• Manifestação de experiências,
sentimentos, idéias e opiniões de forma clara e ordenada.
• Narração de fatos considerando a
temporalidade e a causalidade.
• Narração de histórias conhecidas,
buscando aproximação às características discursivas do texto-fonte.
• Descrição (dentro de uma narração ou de
uma exposição) de personagens, cenários e objetos.
• Exposição oral com ajuda do professor,
usando suporte escrito, quando for o caso.
• Adequação do discurso ao nível de
conhecimento prévio de quem ouve (com ajuda).
• Adequação da linguagem às situações
comunicativas mais formais que acontecem na escola (com ajuda).
LÍNGUA
ESCRITA: USOS E FORMAS
Prática
de leitura
• Escuta de
textos lidos pelo professor.
• Atribuição de sentido,
coordenando texto e contexto (com ajuda).
• Utilização de indicadores
para fazer antecipações e inferências em relação ao conteúdo (sucessão de
acontecimentos, paginação do texto, organização tipográfica, etc.).
• Emprego dos dados obtidos
por meio da leitura para confirmação ou retificação das suposições de sentido
feitas anteriormente.
• Utilização de recursos para
resolver dúvidas na compreensão: consulta ao professor ou aos colegas,
formulação de uma suposição a ser verificada adiante, etc.
• Uso de acervos e
bibliotecas:
• busca de informações e
consulta a fontes de diferentes tipos (jornais, revistas, enciclopédias, etc.),
com ajuda;
• manuseio e leitura de
livros na classe, na biblioteca e, quando possível, empréstimo de materiais
para leitura em casa (com supervisão do professor);
• socialização das
experiências de leitura.
Prática de produção de texto
• Produção de textos:
• considerando o
destinatário, a finalidade do texto e as características do gênero;
• introduzindo
progressivamente os seguintes aspectos notacionais:
* o conhecimento sobre o
sistema de escrita em português (correspondência fonográfica);
* a separação entre palavras;
* a divisão do texto em
frases, utilizando recursos do sistema de pontuação: maiúscula inicial, ponto
final, exclamação, interrogação e reticências;
* a separação entre discurso
direto e indireto e entre os turnos do diálogo, mediante a utilização de dois
pontos e travessão ou aspas;
* a indicação, por meio de
vírgulas, das listas e enumerações;
* o estabelecimento das
regularidades ortográficas (inferência das regras) e a constatação de
irregularidades (ausência de regras);
* a utilização, com ajuda, de
dicionário e outras fontes escritas impressas para resolver dúvidas
ortográficas;
• introduzindo
progressivamente os seguintes aspectos discursivos:
* a organização das idéias de
acordo com as características textuais de cada gênero;
* a substituição do uso
excessivo de “e”, “aí”, “daí”, “então”, etc. pelos recursos coesivos oferecidos
pelo sistema de pontuação e pela introdução de conectivos mais adequados à lin-
guagem escrita e expressões que marcam temporalidade, causalidade, etc.;
• utilizando estratégias de
escrita: planejar o texto, redigir rascunhos, revisar e cuidar da apresentação,
com orientação.
ANÁLISE E REFLEXÃO SOBRE A LÍNGUA
• Análise da qualidade da
produção oral, alheia e própria (com ajuda), considerando:
• presença/ausência de
elementos necessários à compreensão de quem ouve;
• adequação da linguagem
utilizada à situação comunicativa.
• Escuta ativa de diferentes
textos produzidos na comunicação direta ou mediada por telefone, rádio ou
televisão, atribuindo significado e identificando (com ajuda) a
intencionalidade explícita do produtor.
• Identificação (com ajuda)
de razões de mal-entendidos na comunicação oral e suas possíveis soluções.
• Comparação (com ajuda)
entre diferentes registros utilizados em diferentes situações comunicativas.
• “Leitura” para os alunos
que ainda não lêem de forma independente:
• relação oral/escrito:
estabelecimento de correspondência entre partes do oral e partes do escrito em
situação onde o texto escrito é conhecido de cor, considerando indicadores como
segmentos do texto, índices gráficos, etc.;
• relação texto/contexto:
interrogar o texto, buscando no contexto elementos para antecipar ou verificar
o sentido atribuído.
• Análise dos sentidos
atribuídos a um texto nas diferentes leituras individuais e identificação dos
elementos do texto que validem ou não essas diferentes atribuições de sentido
(com ajuda).
• Análise — quantitativa e
qualitativa — da correspondência entre segmentos falados e escritos, por meio
do uso do conhecimento disponível sobre o sistema de escrita.
• Revisão do próprio texto
com ajuda:
• durante o processo de
redação, relendo cada parte escrita, verificando a articulação com o já escrito e
planejando o que falta escrever;
• depois de produzida uma primeira
versão, trabalhando sobre o rascunho para aprimorá-lo, considerando as
seguintes questões: adequação ao gênero, coerência e coesão textual, pontuação,
paginação e ortografia.
• Explicitação de regularidades
ortográficas.
• Exploração das possibilidades e
recursos da linguagem que se usa para escrever a partir da observação e análise
de textos impressos, utilizados como referência ou modelo.