Universidade Federal do Rio de Janeiro
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Faculdade de Educação
Curso de Pedagogia
Disciplina Didática da Língua Portuguesa –
EDD361
Professor Doutor Marcelo Macedo Corrêa e
Castro
Aula 1: Programa da disciplina
1.Desafios
e escolhas
Historicamente, a Didática se define como
uma disciplina que estuda modos de se ensinar os mais diferentes conteúdos e
habilidades. Assim, seus objetos básicos de investigação se organizam dentro do
universo de questões ligadas a planejamento, execução e avaliação de processos
de ensino-aprendizagem, dentre as quais se destacam aspectos relacionados a
objetivos, métodos e recursos.
Essa definição, no entanto, leva
facilmente a um isolamento da Didática em relação à complexidade maior das
práticas pedagógicas e dos processos de formação, colocando-a em um lugar em
que o “como” ensinar existe em condição absoluta, determinada pelo pressuposto
de que a eficiência de processos e metodologias possa estar desvinculada dos
demais aspectos da educação e mesmo do ensino.
A leitura crítica desses limites fez com
que a Didática, principalmente a partir dos anos 1980, passasse a ser pensada
como disciplina que precisa estar devidamente articulada com as demais áreas de
estudo e atuação, em permanente diálogo com o contexto socioeconômico e
político-ideológico em que se desenvolve a educação.
Essa nova perspectiva serviu para retirar
a Didática de seu lugar de conjunto de regras e fórmulas para o “bom ensino”,
mas não modificou o seu objeto básico de preocupação - como ensinar -, apenas
redimensionou o tratamento dispensado a esse objeto, na medida em que o
contextualiza e articula com os diversos sujeitos e cenários em que a educação
ocorre.
O grande desafio, pois, consiste em pensar
não um “como” absoluto, superior, aplicável a tudo e a todos, independentemente
de condições históricas, políticas, ideológicas, econômicas e culturais, mas um
“como” para aqueles sujeitos, naquela situação, ainda que, para tanto, seja
possível recorrer a alguns padrões e pressupostos mais gerais.
Desse desafio decorre uma escolha a se
operar: ensinar o que os estudantes reais que há em sala querem/precisam/podem
aprender ou cumprir uma programação elaborada de antemão para estudantes
supostos/idealizados. Trata-se de uma escolha em que atuam vários aspectos que
a tornam mais complexa e até dramática, pois frequentemente coloca em lados
opostos o que sustentam as pesquisas sobre ensino e aprendizagem e o que
determinam programas, projetos, exames e dispositivos regulatórios.
Ainda que se possa admitir que autoridades
e relações sociais diversas constranjam tais escolhas, penso que cada professor
exerce sua parte para que elas se efetivem em sala de aula. Quando, portanto,
um professor justifica suas opções didáticas com base em determinações
superiores (“A Direção/Coordenação/Supervisão/Secretaria de Educação mandou”.)
ou em razões supostamente pragmáticas (“Cai no vestibular/ENEM”.), considero
que seja o caso de se pensar até que ponto a justificativa, ainda que
plausível, deixa de incluir um posicionamento do professor. Assim, creio que a
operacionalização dos processos pensados/planejados por parte de um professor
deve ser assumida como escolhas que ele fez. Caso contrário, ele corre o risco
de estar trabalhando em prol de algo que não corresponde às suas convicções nem
deriva dos seus conhecimentos, o que significaria, no meu entendimento, ficar a
meio caminho da sua tarefa de ensinar, uma vez que ensina o que não sabe, sem
saber para quem nem por quê.
O caso das didáticas especiais traz um
componente novo para a essa discussão: enquanto a Didática Geral discute os
temas em seu espectro mais amplo, as didáticas especiais precisam tratá-los sob
o enfoque das diferentes disciplinas e seus ensinos. Nesse sentido, um desafio
inicial consiste em tentar trazer para a realidade do ensino de uma disciplina
específica aquilo que a Didática Geral preconiza e propõe nas suas variadas
vertentes.
Um segundo desafio se apresenta na questão
do domínio do conteúdo da disciplina específica. Mesmo admitindo-se que uma
didática especial ou específica existe fundamentalmente para tratar do ensino
de Língua Portuguesa, Matemática, Química, Música ou qualquer outra disciplina,
essa tarefa não pode ser cumprida sem que se tenha algum domínio dos chamados
conteúdos disciplinares.
Esse desafio se agrava porque, como já
fartamente apontado pelas pesquisas acadêmicas, parte significativa (a
maioria?) dos estudantes de cursos de licenciatura não alcança o domínio
desejável/suficiente dos conteúdos disciplinares, o que limita sua formação
profissional.
No caso específico das licenciaturas em Pedagogia, a questão assume uma dimensão mais complexa e grave porque seus
graduados devem estar habilitados para o ensino de várias disciplinas, não
havendo nos currículos de formação elementos que permitam supor que essa
demanda poderá ser atendida até o final da graduação.
As escolhas de professores e estudantes
recaem, portanto, sobre o dimensionamento dos conteúdos da Didática Especial em
relação aos conteúdos da disciplina cujo ensino está em discussão. No nosso
caso: até que ponto um curso de Didática de Língua Portuguesa pode abranger a aprendizagem
desta em si, sem se descaracterizar como uma disciplina que estuda o ensino de
Português? Por outro lado, como discutir esse ensino se não há o domínio
suficiente daquilo que há para ser ensinado?
A proposta que trago para o nosso curso,
já desenvolvida com sucesso com estudantes de Letras, prevê que se tratem os
conteúdos do ensino de Língua Portuguesa sob três perspectivas: 1) o que há
para saber sobre aquele conteúdo; 2) como aquele conteúdo é ensinado e 3) como,
e se, deveria ser ensinado.
A articulação dessas perspectivas poderá
proporcionar o desenvolvimento de estudos de conteúdos disciplinares sem que
isso, todavia, descaracterize o objeto principal da Didática Especial de Língua
Portuguesa, que é o ensino desta.
2. Ementa: Os processos
histórico e social da construção do conhecimento de língua portuguesa. O ensino
de língua portuguesa e sua adequação ao nível de desenvolvimento mental do
estudante. A linguagem da escola e a linguagem do estudante. O ensino da
gramática, da leitura e a produção de textos. Recursos didáticos para o ensino
de língua portuguesa. Criação de materiais didáticos. Análise de propostas
curriculares. Avaliação da aprendizagem de língua portuguesa.
3.
Objetos de estudo: História da Língua Portuguesa. Concepções de Língua Portuguesa e paradigmas
para o seu Ensino. Marcos regulatórios
do ensino de LP. Oralidade e escrita. Práticas sociais e escolares de leitura e
de escrita. Textualidade. Tipos e Gêneros textuais.
4.
Objetivos: Com o desenvolvimento da disciplina,
pretende-se que os estudantes consigam:
- posicionar-se de forma crítica
diante dos desafios da prática do ensino de Língua Portuguesa, baseados no
conhecimento da sua evolução histórica e conceitual;
- refletir sobre a aplicação prática
dos conteúdos básicos de Língua Portuguesa para o primeiro ciclo do Ensino
Fundamental;
- construir, com embasamento
teórico-prático, propostas de ensino de Língua Portuguesa para os diferentes
anos do Ensino Fundamental.
5. Metodologia: A disciplina será
desenvolvida por meio de aulas expositivas, estando prevista a realização de
atividades em grupo, a fim de favorecer a participação dos estudantes, bem como
o permanente diálogo em sala de aula. Está prevista também a vinda de
convidados para tratar de temas específicos do programa e trazer contribuições
aos debates sobre a prática do ensino de Língua Portuguesa. Os recursos
didáticos disponíveis serão empregados de acordo com as possibilidades,
buscando-se variar seu uso.
6. Avaliação: A avaliação será
feita com base em trabalhos realizados ao longo da disciplina, com variação das
condições para a sua realização. Dentre as atividades propostas, haverá pelo
menos uma de realização individual e outra de realização em grupo. Ao longo do
desenvolvimento da disciplina, poderão ser incluídos outros elementos, desde
que acordados com a turma.
7. Frequência: De acordo com a
legislação, o limite de faltas permitido aos estudantes é de 25% do total de
horas da disciplina. No caso da Didática da Língua Portuguesa, esse percentual
equivale a 15 horas-aula, ressaltando-se que cada data corresponde a quatro
horas-aula.
8. Calendário: março (13, 20, 27); abril (3, 10, 17, 24); maio (8, 15, 22, 29); junho (5, 12, 19, 26); julho (3, 10). Há 17 datas disponíveis. O cumprimento da carga horária total da disciplina demanda o uso de 15.
Calendário UFRJ: de 12 de
março a 14 de julho
Feriados
01/05 – Dia do Trabalhador
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9. Contatos
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