Universidade Federal do Rio de Janeiro
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Faculdade de Educação
Curso de Pedagogia
Disciplina Didática da Língua Portuguesa
– EDD361
Professor Doutor Marcelo Macedo Corrêa e
Castro
Aula: Leitura (2)
Texto 1 (Gabriel Garcia
Marquez. IN:MARQUEZ, Gabriel Garcia. Gabriel
Garcia Marquez Conta como contar um conto. São Paulo, Casa Jorge Editorial,
1995)
Que tipo de mistério é esse, que faz com que o simples desejo de contar
histórias se transforme numa paixão, e que um ser humano seja capaz de morrer
por essa paixão, morrer de fome, de frio ou do que for, desde que seja capaz de
fazer uma coisa que não pode ser vista nem tocada, e que afinal, pensando bem,
não serve para nada?
Texto 2 (A
Raposa, Esopo. IN: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda & RÒNAI, Paulo.Mar de histórias: antologia do conto
universal. I: Das Origens ao fim da Idade Média. Rio de Janeiro, Nova Fronteira,
1978)
Havendo uma raposa penetrado na casa de
um ator, - ao examinar, interessada, os objetos deste, viu, entre outros, uma
máscara de teatro, engenhosamente feita. Revirou-a com as mãos e exclamou:
- Que bela cabeça! É uma pena faltar-lhe
o cérebro!
Moralidade: Dirige-se esta fábula às pessoas magníficas
de corpo, mas fracas de espírito.
Texto 3 (Regina
Zilberman e Lígia Magalhães. IN: ZILBERMAN, Regina e MAGALHÃES, Lígia
Cademartori. Literatura infantil:
autoritarismo e emancipação. São Paulo, Ática, 1982)
Dentre as formas literárias existentes,
uma das mais recentes é constituída pelos livros dirigidos às crianças. A
literatura infantil apareceu durante o século 18, época em que as mudanças na
estrutura da sociedade desencadearam repercussões que persistem até os dias
atuais. Assim, entraram em decadência os gêneros clássicos, como a tragédia e a
epopeia, ascendendo em seu lugar o drama, o melodrama e o romance, voltados à
manifestação de eventos da vida burguesa e cotidiana, deixando de lado os
assuntos mitológicos e as personagens aristocráticas. Além disto, o progresso
das técnicas de industrialização atingiu a arte literária, gerando produções em
série de fácil distribuição e consumo, o que foi posteriormente designado como
cultura de massas. Assinalada pela banalidade dos temas, a fixação dos
estereótipos humanos e a veiculação de comportamentos exemplares, a literatura
trivial revela como critério de elaboração a retomada dos mesmos artifícios
composicionais até sua exaustão.
É neste contexto que surge a literatura
infantil; seu aparecimento, porém, tem características próprias, pois decorre
da ascensão da família burguesa, do novo status
concedido à infância na sociedade e da reorganização da escola. Consequentemente,
vincula-se a aspectos particulares da estrutura social urbana de classe média,
não necessariamente industrializada. Por sua vez, sua emergência deveu-se antes
de tudo à sua associação com a pedagogia, já que as histórias eram elaboradas
para se converter em instrumento dela. Por tal razão, careceu de imediato de um
estatuto artístico, sendo-lhe negado a partir de então um reconhecimento em
termos de valor estético, isto é, a oportunidade de fazer parte do reduto
seleto da literatura.
É esta degradação de
origem que motivou sua identificação apressada com a cultura de massas (ou a
assimilação à história em quadrinhos, por exemplo), com a qual compartilha o
exílio do âmbito artístico. Todavia, um redimensionamento do problema se faz
necessário, tendo como meta a verificação das particularidades do gênero, o que
suporá, por um lado, o exame de suas relações com a pedagogia, a quem deve seu
nascimento; e, por outro, a definição de sua capacidade estética, o que o aproxima
da literatura e da arte.
Texto 4 (Minha escola, Ascenso
Ferreira. IN: SILVEIRA, Maria
Helena. Comunicação, Expressão e Cultura
Brasileira, V.2. Petrópolis, Vozes, 1978)
A
escola que eu frequentava era cheia de grades como as prisões.
E
o meu mestre, carrancudo como um dicionário;
Complicado
como as Matemáticas;
Inacessível
como os Lusíadas de Camões!
À
sua porta eu estacava sempre hesitante...
De
um lado a vida...a minha adorável vida de criança:
Pinhões...Papagaios...carreiras
ao sol...
Voos
de trapézio à sombra da mangueira!
Jogos
de castanhas...
-
O meu engenho de barro fazendo mel!
Do
outro lado, aquela tortura:
“As
armas e os barões assinalados”
-
Quantas orações?
-
Qual é o maior rio da China?
-
A2 + 2AB = quanto?
-
Que é curvilíneo, convexo?
-
Menino, venha dar sua lição de retórica!
-
”Eu começo, atenienses, invocando
a
proteção dos deuses do Olimpo
para
os destinos da Grécia”
-
Muito bem! Isto é do grande Demóstenes!
-
Agora a de francês:
-
“Quand le christianisme avait apparu sur la terre...”
-
Basta...
-
Hoje temos sabatina...
-
O argumento é o bolo!
-
Qual é a distância da Terra ao sol?
-
?!!
-
Não sabe? Passe a mão à palmatória!
-
Bem, amanhã quero isso de cor...
Felizmente,
à boca da noite,
eu
tinha uma velha que me contava histórias...
Lindas
histórias do reino da Mãe d’água...
E
me ensinava a tomar a bênção à lua nova.
Texto 5 (Janela sobre a
palavra (I), Eduardo Galeano. IN: GALEANO,
Eduardo. As palavras andantes. Porto
Alegre, L&PM, 1994)
Os contadores de histórias, os cantadores de
história, só podem contar enquanto a neve cai. A tradição manda que seja assim.
Os índios do norte da América têm muito cuidado com essa questão dos contos.
Dizem que quando os contos soam, as plantas não se preocupam em crescer e os
pássaros esquecem a comida de seus filhotes.