terça-feira, 25 de agosto de 2020

PLE - Tema 4 – Gêneros acadêmicos da área de Educação

 

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Centro de Filosofia e Ciências Humanas

Faculdade de Educação

Curso de Pedagogia

Departamento de Didática

Disciplina: Leitura e Produção de Textos em Educação

Código: EDD 614

Professor Dr. Marcelo Macedo Corrêa e Castro

Período Letivo Excepcional – 24 de agosto a 11 de novembro de 2020

 

 

 

Texto do Tema 4 – Gêneros acadêmicos da área de Educação

 

Os gêneros textuais mais praticados nas universidades recebem principalmente três qualificações gerais: acadêmicos, científicos e universitários, sendo as duas primeiras mais frequentes. Neste trabalho vou adotar a designação gêneros acadêmicos, porque é a mais usada na área de Educação.

O primeiro pressuposto que apresento é o de que os gêneros acadêmicos são produzidos e circulam prioritariamente em uma comunidade discursiva que abrange docentes, servidores técnicos e estudantes. Tais gêneros resultam de ações relacionadas às três dimensões do tripé definido para o desenvolvimento das universidades: ensino, extensão e pesquisa.

Embora seja preconizada uma indissociabilidade entre essas três dimensões, na realidade o que se observa é que, muitas vezes, elas se desenvolvem com bastante independência. Isso afeta diretamente a produção textual, uma vez que a escrita tem suas características formais atreladas à sua função e valor social. As condições de produção de um texto, bem como sua destinação, por exemplo, são aspectos determinantes para a configuração final de uma produção escrita.

Nesse sentido, começo por deixar de lado textos estritamente técnicos, relacionados às rotinas burocráticas. Feita essa exclusão, vou considerar dois grupos de textos: os produzidos por docentes e técnicos, por força de suas atividades de ensino, extensão e pesquisa; e os produzidos por estudantes de graduação e de pós-graduação em seus processos de formação. Como esse trabalho destina-se especialmente aos estudantes de graduação, vou concentrar meu foco na sua escrita acadêmica.

Professores e técnicos escrevem textos ligados basicamente a três movimentos: propor, examinar e relatar ações de pesquisa e de extensão. Sem prejuízo de outras escritas, os gêneros projeto, parecer, relatório e artigo dominam sua produção.

Estudantes de graduação, por seu turno, embora sejam demandados a produzir gêneros consagrados como acadêmicos – fichamento, resumo, resenha – também precisam dar conta de outro tipo de produção escrita. Segundo Dionísio e Fischer (2011, p.87), seriam as ferramentas pedagógicas (grifo acrescido), “aqueles textos que servem de mediadores dos processos de ensino e aprendizagem, nestes se incluindo a avaliação”.

Em pesquisa realizada com 18 docentes do Curso de Pedagogia da UFRJ (CASTRO, 2018, p.68), obtive o seguinte resultado para a pergunta: “Que tipo de produção escrita você costuma solicitar dos estudantes nas disciplinas que leciona?”

As respostas discriminam 26 designações de produção textual, nomeadas pelos participantes no conjunto de 81 indicações presentes em suas respostas. As designações com maior ocorrência são estas: trabalho (13), prova (8), plano (7), resumo (7), relatório (6) e estudo dirigido (5), em um total de 46, o que corresponde a 56,7%. A seguir, vêm análise (4), avaliação (4), projeto (4) e resenha (4), perfazendo 16, o que equivale a 19,7%. As demais têm uma ou duas ocorrências e representam, no todo, 23,6%.

Como apontei no referido estudo, apenas 31,2% dos gêneros mencionados pelos docentes estão contemplados nas obras de referência para o ensino e a aprendizagem de gêneros acadêmicos. Além disso, o gênero mais citado – trabalho – constitui uma produção de amplitude larga e caracterização fluida, que não se constitui claramente como um gênero, embora, segundo Marinho (2010), possamos considerar que ele se aproxime da produção que os estudantes costumam praticar na Educação Básica.

Teríamos, portanto, no caso da produção dos estudantes de graduação, a predominância de uma escrita, em boa parte, semelhante à que praticaram na Educação Básica, com destaque para o Ensino Médio. Trata-se de uma escrita demandada pelos professores, cuja função principal é devolver conteúdos, demonstrar aprendizagens e explicitar conhecimentos (CARVALHO, 2003).

Não vou tratar dessa escrita. Minha atenção ficará restrita à produção dos gêneros estritamente acadêmicos, mas fiz questão de começar minha abordagem destacando que tais gêneros não ocupam de forma majoritária o universo da produção escrita dos graduandos, toda ela ainda fortemente dominada pela confecção de trabalhos para provar ao professor que aprenderam o que lhes foi proposto aprender.

Para iniciar esse percurso, destaco ainda uma questão primordial para as abordagens que faço dos gêneros acadêmicos na graduação. Trata-se da diferença que existe entre docentes, técnicos e pesquisadores, de um lado, e estudantes de graduação, de outro, quando se trata das condições de produção de escritas tipicamente acadêmicas.

Nesse sentido, os do primeiro grupo escrevem em decorrência de movimentos que gerenciam com bastante autonomia e monitoramento próprio, enquanto os do segundo escrevem demandados por seus professores ou, na melhor das hipóteses, quando envolvidos em ações de pesquisa e de extensão, monitorados por seus orientadores.

Tenho defendido que os avanços dos estudantes de graduação no desenvolvimento de sua escrita acadêmica têm pouca expressão quando limitados a intervenções como cursar disciplinas ligadas ao chamado letramento acadêmico. Por força da minha experiência no ensino superior e dos estudos realizados nos últimos anos acerca da escrita acadêmica de graduandos, defendo que o desenvolvimento dessa escrita depende da inserção dos estudantes na comunidade discursiva da academia. Isso equivale a defender que tenham uma condição essencial a autores de gêneros acadêmicos: estarem de fato envolvidos, com protagonismo, em ações de pesquisa e de extensão. Em minhas abordagens, portanto, vou considerar não apenas como se produz um determinado gênero, mas quem o produz, em que quais condições e para quê.

Para dar conta da análise dos gêneros acadêmicos, agrupei-os em três conjuntos, a partir de uma combinação do grau de complexidade e da função de cada um.

O primeiro grupo é o dos textos de complexidade menor, com função basicamente de registro de leitura. Funcionam com a perspectiva de se constituir uma memória dos textos lidos, para consulta e para compartilhamento. Nele incluo o fichamento, o resumo e a resenha.

O segundo grupo é o dos textos de complexidade mediana, nos quais a função de análise e argumentação se combinam com o registro e o relato. Neste grupo, incluo o ensaio, os relatórios com dimensão crítica e os artigos.

O terceiro grupo reúne os textos de maior complexidade, com função de apresentar análises e investigações de maior alcance e profundidade. Estão nesse caso os trabalhos de conclusão de curso, as dissertações de mestrado e as teses de doutorado.

Desses três grupos de textos, tratarei em tópicos separados ao longo do curso daqueles que são mais solicitados aos estudantes do curso de Pedagogia da UFRJ: o trio fichamento, resumo e resenha; o anteprojeto de TCC; o TCC. Adicionalmente, abordarei o ensaio como um gênero que pode servir de ponte entre o domínio da escrita ao fim da Educação Básica e as demandas de produção textual próprias do início do ensino superior.

 

 

Referências

 

CARVALHO, J. A. B. Escrita: percursos de investigação. 2003. Braga: Portugal, DME/UM, 2003. Disponível em: https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/18254/1/Escrita,%20Percursos%20de%20investiga%C3%A7%C3%A3o.pdf  . Acesso em 8 de setembro de 2015.

 

CASTRO, M. M. C. e. A Produção Textual Solicitada aos Estudantes do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. IN: Educação em debate. Fortaleza, Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira – FACED/UFC. Ano 40, n.o 75, ilust. quadrimestral, 2018. ISSN: 0102-1117. e-ISSN: 2526-0847. http://dx.doi.org/10.24882/eemd.v40i75.552

 

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